Eu achei que ía ser fácil. Achei que não ía me desgastar...ACHEI TUDO ERRADO! Um Natal diferente.

on 19 de dezembro de 2012

Eu achei que ía ser fácil. Achei que não ía me desgastar. Achei que seria só mais um trabalho em meio tantos outros. Achei tudo errado...Mas tudo valeu a pena. Dentre inúmeros afazeres que assumi depois que a minha turma - XXIV de Direito da UNESP - se formou e a comissão de formatura acabou, fiquei encarregada de dar um destino ao restante do dinheiro que ficou na conta corrente. Em meio a enquetes, falta de tempo, semanas e mais semanas, um sem inúmero de discussões acaloradas, pois cada um queria dar um destino ao dinheiro: churrasco, doação, sorteio... Tivemos espaço até para discussões ideológicas. A única e mais importante máxima pareceu esquecida “fazer o bem e não olhar para quem” ou ainda “daí e não olhai para quem” no fórum da turma. Enfim, a turma optou por doar o dinheiro para um projeto/ONG sem vínculo institucional com a UNESP. Dentre algumas opções sugeridas, escolhi os “Andarilhos da Luz” (o grupo já tem 10 anos de estrada), pois já tinha ouvido falar do trabalho e admiro aqueles palhaços que vão todos os domingos alegrar os pacientes em hospitais aqui de Franca. No final do ano, eles tem um projeto paralelo chamado “Operação HoHoHo” no qual eles recolhem as tão famosas cartinhas do correio e da casinha do papai Noel no centro da cidade. Importante salientar que estas cartinhas são provenientes de famílias carentes e o grupo se encarrega de visitar lar por lar para ver se a família realmente “precisa”. Depois de recolhidas as cartinhas, eles buscam atender aos pedidos que consistem no geral em brinquedos, cestas básicas, vestimentas etc. Talvez tenha sido instintivo, já que nos últimos anos descobri uma grande afinidade por trabalhar com crianças, mas acredito que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito neste momento no nome da minha turma. Ok. Projeto Escolhido. Entrei em contato com o coordenador da “Operação HoHoHo” que me explicou como tudo funcionava. Conversamos muito e decidimos a melhor forma de eu colaborar com a operação. Ele me passou uma lista com os pedidos de todas as crianças e eu ficaria encarregada de comprar o que conseguisse e atualiza-lo do status dos pedidos. Deu um friozinho na barriga... do tipo “Meu Deus, e se a criança pedir aquele carrinho ()#*@&*#@# ou aquela Boneca XTQJOAÇLA , o que eu vou fazer?! Como vou achar isso?! Estou a pé aqui em Franca. Não tenho muito tempo...e agora?! Bom, vamos lá!!!” Ao abrir a lista de pedidos, realmente me surpreendi... Tirando meia dúzia de pedidos um pouco mais “complexos ou caros”, a grande maioria consistia em pedidos muito simples, tais como roupas, sapatos, bonecas, carrinhos, bolas de futebol, “brinquedos” (sem especificar mesmo), chocolate, panetone, caixa de lápis de cor, caderno, estojo. Na hora o meu frio na barriga passou e eu “quase que entristeci”, pois me deparei com a realidade. Sim, a realidade, aquela que muitas vezes passa bem longe da gente. Aquela realidade da maior parte da população brasileira. Não a nossa realidade privilegiada. No Natal sempre pedi um “brinquedo diferentão” ou algo “mais caro”, algo que eu não tinha durante o ano todo... E aquelas cartas revelavam a realidade brasileira: crianças precisando de coisas que eu sempre tive como “básicas” ou que eu não precisava esperar uma “data especial” para ganhar. Isso tudo me tocou muito...isso me fez lembrar de algo esquecido...isso me fez voltar a pensar como criança...isso me fez lembrar do sentimento de rasgar um embrulho de Natal e encontrar um brinquedo que tanto queria. Isso me fez lembrar que não são todos que tem “Natais” fartos e gordos, com abundância de comida, com X tipos de carnes diferentes, Y tipos de pratos, Z presentes, árvores grandes e casas enfeitadas...amigos, pessoas, sorridentes felizes comemorando como se não houvesse o amanhã...Enfim, isso me fez lembrar e me “tocar” de muitas coisas. Demorei alguns dias para sair as compras, porque o tempo em Franca não colaborou. Choveu por dias. Finalmente, consegui sair em meio a chuva mesmo na 2ª feira a tarde. Pensei que seria fácil. 530 reais e uma lista de pedidos. VAMO QUE VAMO!!! Dá para atender a muitas crianças... A lista tinha pedidos de aproximadamente 30 famílias, lembrando que cada família tem aprox. algo entre 2 e 3 filhos, as vezes mais. Não foi fácil... Meu primeiro pensamento: “Rodar” as lojas de 1,99 do centro e tentar comprar brinquedos baratos para poder comprar para muitas crianças. Ok. Nunca tinha percebido antes como tais lojas tem MUITOS brinquedos, baratos sim, mas sem muita qualidade... Fui em 3 lojas grandes. Uma coisa ou outra acabei comprando nestas lojas, porque não tinha nas “lojas de brinquedos de verdade”. Depois fui em 2 lojas grandes de brinquedo aqui no centro e não tive dúvida de que compraria todos os presentes nestas lojas. Eu simplesmente não consegui “comprar qualquer coisa, qualquer boneca, qualquer carrinho chinês” nas lojas de 1,99. Cada nome acompanhado da idade, cada pedido que eu olhava na lista, eu tinha o maior cuidado para escolher “A Boneca”, “O carrinho”, “O brinquedo” (claro, levando em consideração o pequeno orçamento que eu tinha)... mas foi tudo com muito sentimento, não consegui fazer algo automático como pensei que seria: 530 reais, X pedidos, X brinquedos. Não, não foi assim... gastei tempo para escolher cada coisa, para fazer cada boneca combinar com cada carrinho de boneca, para não dar o mesmo presente para irmãos, para dar presentes que eles pudessem “jogar” juntos, para dar algo que fizesse os olhinhos deles brilharem ao menos um pouquinho. Não tem como explicar... foi como se cada criança da lista fosse minha filha, ou meu irmãozinho mais novo ou alguém que eu gostasse muito...mesmo sem conhecer. Entre idas e vindas de lojas para casa, de casa para as lojas, afinal estava a pé e o volume das sacolas era grande, os olhos lacrimejantes, o coração saltitante, um misto de ansiedade e felicidade foram uma constante durante os dois dias de compras. No final das contas, atendemos pedidos de 18 crianças. Ainda preciso prestar contas para a turma, apresentar fotos, comprovantes etc. O meu sonho era poder participar da entrega dos presentes as famílias no dia 24... A princípio, até combinei com os Andarilhos, mesmo não sendo parte oficial do grupo. Contudo, não conseguirei participar. Tentei ser forte, tentei, mas ainda não foi dessa vez. Não foi fácil falar para mim mesma que abriria mão de passar o Natal com a família para passar sozinha dentro de um ônibus da Cometa, só chegando na minha cidade para o almoço. Além disso, recebi o convite de uma confraternização no próximo final de semana com uma das minhas melhores amigas que não vejo há ano e fico sempre enrolando. Uma pessoa que sempre me ajudou muito quando precisei. Enfim... precisei ser egoísta e olhar um pouco para as minhas necessidades, para a minha vida, para as pessoas que a compõe...afinal, sem elas, eu não teria base para fazer todo o restante. Acho que é aí que percebemos a nossa humanidade e acertamos: precisamos assumir quando não somos fortes o suficiente para determinada situação ou ainda assumir quando abraçamos mais do que poderíamos. Nos próximos dias algum dos Andarilhos vem a minha casa para recolher as doações. Já me sinto triste pelo fato de não estar aqui no dia 24, mas... é a vida. Tentamos o tempo todo conciliar: trabalho, estudos, amigos, família...tentamos o tempo todo fazer isso dar certo. Definitivamente, não é pouca coisa e não é fácil. Mas quem disse que seria, não é?! Conclusão: Não foi fácil, tirei um peso das minhas costas (agora não há mais pendências da comissão de formatura!!!!), ganhei um presente de Natal “sem querer” – tudo o que eu passei, aprendi, senti e percebi foi o maior presente que eu poderia ter ganho neste final de ano. Vocês da XXIV Turma de Direito da UNESP devem se sentir assim também, afinal, foi uma decisão e um ato da turma e cada presente está etiquetado com o nome dela. Tenham certeza qeu fizemos a diferença na vida de muitas famílias aqui em Franca...tenham certeza que os olhinhos de 18 crianças vão brilhar no Natal por causa de vocês! Por nossa causa! É isso aí XXIV!!! Boas Festas a todos! Grande abraço! Saudades.