Fora somente mais uma aventura?!

on 18 de janeiro de 2014

Fora somente mais uma aventura. Ela deveria ter seguido a intuição... aquele 6º sentido que diz “não entra nessa!” Ela gostava daquela coisa de sofrer por amor, se apaixonava facilmente supervalorizando as qualidades e fechando os olhos para os defeitos. Ela se interessou pelas diferenças entre as trajetórias de vida. Ela se interessou pela simplicidade, pelo sorriso que brincava com olhos e pelo tanto que ele “ralou” para ser alguém. Ela teve todo o amor, toda a base familiar necessária durante a infância, adolescência e até hoje; ele não. Ela tinha 24 anos e ainda não trabalhava, pois fazia mestrado; ele trabalhava desde os 16 e aos 28 já tinha saltado de faculdade em faculdade, ainda estava no 2º ano, mas, já tinha casa, terreno e casa, enquanto ela ainda dependia dos pais e preferia gastar viajando do que com carro. Ela era de humanas; ele de exatas. Ela gostava de samba, MPB e rock internacional; ele curtia sertanejo universitário. Ela achava que som alto tinha momento e lugar; ele andava com o som estalando no carro. Ela amava carnaval; ele não podia ouvir falar a respeito. Ela era uma amante de vinhos; ele não gostava. Ela não gostava de pimentão; ele temperava todas as comidas com pimentão. Ela era muito agitada, gostava de conversar e solucionar os problemas quando apareciam; ele era muito calmo e deixava as discussões para depois. Ele já era separado há anos, mas ainda não havia assinado o divórcio; ela como advogada achava isso uma abominação. Ele era muito grudento; ok, com o tempo ela aprendeu a gostar desse exagero de atenção, mas, inicialmente, achava estranho... Ela falava inglês, francês e espanhol; ele mal sabia inglês e cometia erros crassos de português. Ela viajara bastante; ele não. Ela ficava furiosa quando ele chacoalhava a garrafa de café com água quente dentro. Ela lia jornal todos os dias, discutia política, esporte, economia, música, cinema e tudo o mais; ele não . Ela tentou fazê-lo gostar de vinho, a ajuda-lo a avançar no inglês, a ler jornal e ver os problemas sempre pelo lado positivo. Ela tentou fazê-lo entender que ele era um privilegiado frente a miséria do mundo, que os problemas dele eram mínimos frente a quem passa fome, não tem casa, nem família, tampouco emprego. Ela levou um pé na bunda e sofreu. Sofreu com gosto. Chorou, pediu desculpas pelos supostos erros e pediu para voltar. Mandou mensagens ébria e música do Roberto Carlos. Chorou mais um pouco. Passou dias dormindo, sem banho e sem comer. Passou dias em claro, comendo chocolate e bebendo vinhos. Mudou-se para o sofá da sala onde passava madrugadas vendo filmes. Se apaixonou por novos tipos de queijo e cortes de peixe. Em um determinado dia, sem mais, nem menos... ela viu que não fazia mais sentido insistir, ser ignorada, acordar com os olhos inchados e ficar enrugada de chorar. Nenhuma mulher merece rugas! Bom, daí, ela fuçou no Facebook dele, mesmo depois de tê-lo excluído. Fuçou no facebook das meninas que curtiam as fotos dele e até descobriu meia dúzia de coisas... coisas que a deixaram mais triste, mas não importava mais. Um momento de insanidade pós-término. Quem nunca?! Atire a primeira pedra! Ela tinha 24 anos e muitas qualidades admiráveis, mas conhecia muito bem os seus defeitos e se lhe dessem motivo, ela iria até o fim do mundo para descobrir o que estava errado. Ela entrou na onda da “modernidade” e baixou um aplicativo de paquera para elevar a auto-estima abalada pelo término. Começou a “brincar”, em poucos dias, inconsequentemente ---excluindo pessoas e dando “likes”--- já tinha umas 70 combinações. Descobriu muita gente nova, inteligente, bonita, diferente e interessante --- o que lhe fez muito bem. Com o tempo, ela abandonou a maior parte das conversas com os estranhos, restou um ou outro, com os quais ela acha que está valendo a pena conversar, nem que seja por amizade. Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções, eu vivi! Já dizia o Rei. Eles não tinham nada a ver um com o outro... Só em música, filme e poesia que os opostos se atraem e ficam juntos. Talvez, a única semelhança fosse o “gênio forte” que proporcionava uma eterna competição de “quem está certo e quem está errado”. É inegável que eles tinham muita pele. Ele a fazia sentir querida, amada e protegida. Ele a fazia acordar sorrindo e sempre lhe arrancava gargalhadas. Fizeram meia dúzia de planos envolvendo férias, viagens, encontros e o futuro... mas, hoje, ela vê que qualquer um poderia fazer isso por ela e com ela! Ela estava fragilizada devido há uma série de desilusões passadas e deixou-se levar por alguém que conhecera há 24 anos, mas que caíra de paraquedas no meio da vida dela. Passados mais de quinze anos, sem um saber do outro, eles haviam se reencontrado e começado uma amizade despretensiosa. Aos 24 anos, ela se apaixonara por aquele que fora um menino magrelinho que lhe mostrava peixinhos no aquário enquanto ela seguia de cara emburrada. Ela ainda está superando. As vezes, pensa se deve voltar a conversar com ele, pensa se isso vai lhe fazer bem ou mal, pensa se deve ou não cultivar uma amizade, enfim, ela pensa mil coisas...e sabe que, com o tempo, isso não vai fazer a menor diferença. Talvez, ela até esqueça dele e dessa aventura, assim como já aconteceu outras vezes. Ela não sabe dizer se ele era mal intencionado, interesseiro ou se realmente a amou. A única coisa que ela sabe é que ele era um tanto confuso, mal resolvido e precisava urgentemente de umas sessões de terapia. No que tange a ela, ao menos hoje, ela acha que não foi amor... foi uma aventura inconsequente de uma mulher-menina impulsiva que adora sofrer “por amor”. Ela escondera tudo da família que era contra o relacionamento (depois descobriu que não era TÃO contra assim, era tudo da boca para fora...). Ela se sentiu desafiada e quis mostrar a si mesma que não se importava com a opinião dos outros. Ela quis namorar escondido e se apaixonou pelo proibido, pelo jogo, pela desobediência e pela aventura. No final, acabou sendo mais uma história de uma garota de família que se apaixonou por um menino sem a mínima estrutura familiar. Uma história entre pessoas de classes sociais diferentes e isso não teria nenhum problema, se os valores e os objetivos fossem os mesmos, se houvesse equivalência e sincronia...Se houvesse respeito, compreensão e amor. Ele não sabia, mas ela queria lhe mostrar a sua realidade cheia de amor, sabedoria e família. Ele não sabia, mas ela queria lhe mostrar todos os sabores que experimentou durante as suas viagens e lhe contar histórias de todos os lugares. Ele não sabia, mas ela fazia planos de tornar a vida dele mais fácil junto com ela. Ele não sabia, mas ela queria aprender muitas coisas com ele, coisas com as quais ela não teve contato durante a sua vida. Ele não sabia, mas ela queria construir algo com ele – algo bonito, leve, que fizesse sorrir e fosse doce. Ele não quis, ele jogou tudo isso fora quando a abandonou, talvez nada disso importasse para ele. Talvez, os valores deles fossem realmente diferentes. Ela não entendeu até hoje o porquê da separação. Ela também já não queria mais entender, pois já se torturara o suficiente... A relação durou pouco e o sofrimento tinha que ser proporcional, claro, com todo o desequilíbrio de ego ferido inerente a uma mulher nascida sob o signo de Áries com ascendente em Áries. Comparado a tudo que já passou na vida, diria que ela está superando bem e, relativamente, rápido. Afinal, para que tanta dor, se, no final, havia sido somente mais uma aventura como tantas outras?!

Viajar, comer e... amar?

on 13 de janeiro de 2014

Sempre digo que os maiores prazeres terrenos são comer e viajar. Fico angustiada em imaginar o dia em que alguém me questionará: “E amar?”. Bom, não tenho uma resposta... o que eu sei é que até a pior das comidas e a pior das viagens, foi você quem escolheu e a curto prazo será algo fácil de superar, ao contrário de um coração partido ou de um amor não correspondido. Não escolhemos quem amar, simplesmente, amamos e não temos o mínimo controle sobre o que acontecerá. Saborear texturas, aromas e pratos diferentes. Conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes. Não há nada mais rico que isso, tampouco há algo melhor para nos auxiliar a esquecer das nossas mazelas pessoais e pensar de uma forma mais global. A comida ruim, no máximo, te dará uma dor de barriga ou uma intoxicação alimentar, mas dentro de pouco tempo você já estará ok, poderá contar histórias e dar boas risadas! A pior das viagens, com certeza, não foi a “pior das viagens”, você pode ter tido todo tipo de problemas com o voo, com a hospedagem e até com a comida, mas, conheceu um lugar novo, viu coisas diferentes que, de uma forma ou de outra, impactarão a sua vida. Você não será mais o mesmo. E o amor?! Quando um coração é partido ou quando o amor não é correspondido, não há remédio a curto ou médio prazo, não há nada que nos faça esquecer ou rir a toa. Sofremos, choramos, conhecemos a dor e cada cantinho sórdido dela. Nos torturamos tentando descobrir o que deu errado, nos torturamos pensando no “E se...tivesse sido de outra forma”, nos torturamos lembrando dos bons momentos, nos torturamos lembrando de beijos, abraços e sorrisos, nos torturamos achando que vamos ficar depressivos para sempre e que nunca acharemos nada, nem ninguém melhor. Em outras palavras, passamos por uma fase de insanidade e masoquismo. É possível notar isso porque utilizamos muito as palavras SEMPRE, NUNCA, TUDO, NADA, palavras tão absolutas que não combinam com a relatividade da nossa realidade, tampouco com a sua liquidez. Amar é uma delícia e é sublime. Amar a família, os amigos, os companheiros. Contudo, as possíveis consequências trágicas que acompanham “o amar” me fez deixar esse verbo longe da minha lista de “prazeres terrenos”... faz até sentido, pois amar não é desse mundo! É algo maior. Só o tempo, a longo prazo, cura um coração ferido. Por óbvio, amores mal resolvidos nos ensinam muito e nos proporcionam um grande crescimento pessoal. Talvez, “a melhor coisa” para impulsionar a vida de alguém seja ter o seu coração partido, uma, duas, três, infinitas vezes... porque passada a fase de insanidade, vem a fase de querermos ser pessoas melhores, de tentarmos coisas novas, de vencermos mais e mais e mais...O mundo fica pequeno para a nossa vontade de viver. É como se você passasse um bom tempo caindo em um buraco, depois da queda você encontra o chão duro, como se não fosse suficiente, você acaba com as suas mãos e unhas sangrando, cavando um buraco mais fundo até cansar...mas, de repente, encontra um trampolim que te leva para a superfície muito mais rápido do que a sua descida. Depois de tanto tempo no escuro daquele buraco, tudo a sua volta parece ser mais vivo, mais colorido, mais lindo e você volta a apreciar cada detalhe da realidade como um bebe recém-nascido. Quase mudei de ideia e acrescentei “amar” na minha lista enquanto escrevia esse texto. Mas não, as delícias e sombras do amor são muito complexas. Se o “amor” figurar na minha vida, ficará depois do “comer e viajar” e não me achem fútil por isso. Muito pelo contrário, é um coração estilhaçado de tanto amar que afirma com toda a certeza que “comer e viajar” são os maiores prazeres terrenos, a prova disso, é que eles curam um coração partido, assim como proporcionam momentos inesquecíveis a quem se propõe a amar. "Calamares en su tinta" - Lula cozida na sua própria tinta - Um dos piores pratos que comi na vida, viajava por Madri/Espanha. A viagem foi demais e a experiência com essa comida rende boas histórias até hoje!