Viajar, comer e... amar?

on 13 de janeiro de 2014

Sempre digo que os maiores prazeres terrenos são comer e viajar. Fico angustiada em imaginar o dia em que alguém me questionará: “E amar?”. Bom, não tenho uma resposta... o que eu sei é que até a pior das comidas e a pior das viagens, foi você quem escolheu e a curto prazo será algo fácil de superar, ao contrário de um coração partido ou de um amor não correspondido. Não escolhemos quem amar, simplesmente, amamos e não temos o mínimo controle sobre o que acontecerá. Saborear texturas, aromas e pratos diferentes. Conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes. Não há nada mais rico que isso, tampouco há algo melhor para nos auxiliar a esquecer das nossas mazelas pessoais e pensar de uma forma mais global. A comida ruim, no máximo, te dará uma dor de barriga ou uma intoxicação alimentar, mas dentro de pouco tempo você já estará ok, poderá contar histórias e dar boas risadas! A pior das viagens, com certeza, não foi a “pior das viagens”, você pode ter tido todo tipo de problemas com o voo, com a hospedagem e até com a comida, mas, conheceu um lugar novo, viu coisas diferentes que, de uma forma ou de outra, impactarão a sua vida. Você não será mais o mesmo. E o amor?! Quando um coração é partido ou quando o amor não é correspondido, não há remédio a curto ou médio prazo, não há nada que nos faça esquecer ou rir a toa. Sofremos, choramos, conhecemos a dor e cada cantinho sórdido dela. Nos torturamos tentando descobrir o que deu errado, nos torturamos pensando no “E se...tivesse sido de outra forma”, nos torturamos lembrando dos bons momentos, nos torturamos lembrando de beijos, abraços e sorrisos, nos torturamos achando que vamos ficar depressivos para sempre e que nunca acharemos nada, nem ninguém melhor. Em outras palavras, passamos por uma fase de insanidade e masoquismo. É possível notar isso porque utilizamos muito as palavras SEMPRE, NUNCA, TUDO, NADA, palavras tão absolutas que não combinam com a relatividade da nossa realidade, tampouco com a sua liquidez. Amar é uma delícia e é sublime. Amar a família, os amigos, os companheiros. Contudo, as possíveis consequências trágicas que acompanham “o amar” me fez deixar esse verbo longe da minha lista de “prazeres terrenos”... faz até sentido, pois amar não é desse mundo! É algo maior. Só o tempo, a longo prazo, cura um coração ferido. Por óbvio, amores mal resolvidos nos ensinam muito e nos proporcionam um grande crescimento pessoal. Talvez, “a melhor coisa” para impulsionar a vida de alguém seja ter o seu coração partido, uma, duas, três, infinitas vezes... porque passada a fase de insanidade, vem a fase de querermos ser pessoas melhores, de tentarmos coisas novas, de vencermos mais e mais e mais...O mundo fica pequeno para a nossa vontade de viver. É como se você passasse um bom tempo caindo em um buraco, depois da queda você encontra o chão duro, como se não fosse suficiente, você acaba com as suas mãos e unhas sangrando, cavando um buraco mais fundo até cansar...mas, de repente, encontra um trampolim que te leva para a superfície muito mais rápido do que a sua descida. Depois de tanto tempo no escuro daquele buraco, tudo a sua volta parece ser mais vivo, mais colorido, mais lindo e você volta a apreciar cada detalhe da realidade como um bebe recém-nascido. Quase mudei de ideia e acrescentei “amar” na minha lista enquanto escrevia esse texto. Mas não, as delícias e sombras do amor são muito complexas. Se o “amor” figurar na minha vida, ficará depois do “comer e viajar” e não me achem fútil por isso. Muito pelo contrário, é um coração estilhaçado de tanto amar que afirma com toda a certeza que “comer e viajar” são os maiores prazeres terrenos, a prova disso, é que eles curam um coração partido, assim como proporcionam momentos inesquecíveis a quem se propõe a amar. "Calamares en su tinta" - Lula cozida na sua própria tinta - Um dos piores pratos que comi na vida, viajava por Madri/Espanha. A viagem foi demais e a experiência com essa comida rende boas histórias até hoje!

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