Devaneios do "Sofrimento"

on 12 de janeiro de 2013

Em meio a uma conversa meio sem pé nem cabeça pela internet... Em meio a um ambiente totalmente perturbado por uma campainha que soava incansavelmente e por um telefone que tocava desesperadamente... Em meio a uma conversa que começou com o assunto “arte” e terminou com o assunto “relacionamentos”... Em meio a uma vida cheia de acontecimentos inacreditáveis ou quase inverossimeis... Em meio a uma conversa onde cada um usava o outro como terapeuta para falar de experiências diversas... Em meio a toda esta conjuntura a palavra "sofrimento" veio à tona. [Houaiss] SOFRER v. (mod.8) 1 Trans.int. sentir dor física ou moral; padecer. 2 Trans. Ser alvo de (acidente, golpe etc.) 3 passar por (algo ger. ruim) 4 aguentar, suportar 5 int. ter dano, prejuízo – sofredor adj.s.m.-sofrimento s.m. Paradoxalmente minha sombra, já que há anos prometi que não mais sofreria por NADA, (E aí já me questiono: será que NADA merece um sofrimento?!) e, realmente, assim ocorreu, pois a intimidade com este estado de espírito é tão grande que não mais o abomino, mas convivo na mais perfeita paz com ele. Sem adentrar em demasia em histórias e sentimentos pessoais, esta realidade me fez levantar um sem-número de questionamentos. Já me disseram que não sofro muito, pois os meus 23 anos me ensinaram a ter um grande potencial de desapego... desapego das pessoas, das coisas, das situações. Mas não é verdade, pois eu me apego e gosto, como gosto. O apego é quente, o apego é acolhedor, o apego é vida, o apego é o céu e o inferno. Consoante Vinícius de Moraes “fiel a sua lei de cada instante; desassombrado, doido e delirante; numa paixão de tudo e de si mesmo”. A questão é que quando o sofrimento assombra, tenho uma “receita de bolo” para colocar a minha sombra na linha, para fazê-la acompanhar o meu ritmo quando a mesma está apressadinha querendo me ultrapassar. Em meio a estes questionamentos da madrugada quase “surtei”, pois precisava explorar a obscuridade de tais meandros, mergulhando profundamente na minha vida regressa, de modo que pudesse compreender o presente para ter um futuro melhor. Não sabia se escrevia um ode, uma apologia, um poema, um repúdio, um desabafo e aqui estou nesta reflexão sem sentido, sem começo, nem fim e que não vai me levar a lugar nenhum. Mais um texto para eu ler daqui uns anos e dar risada, chorar ou ver que está se repetindo. Hoje eu tenho “receitas de bolo” para curar sofrimentos... assim como tenho “receitas de bolo” para outras circunstâncias (Acredito que todos temos). Mas que tipo de sofrimento é esse que é curado com “receita de bolo”?! Isso não me parece certo. Veja bem, não disse que eu não sofro. Eu sofro, mas será um sofrimento de verdade? Será um sofrimento criado de propósito? Será sofrimento ou mera paixão pelo masoquismo? E mais, todas essas perguntas geram uma outra: Podemos graduar o sofrimento?! Porque a “quantidade” de sofrimento de hoje em circunstâncias parecidas com as do passado é muito menor. Então, chego a duas conclusões óbvias - de que é possível a graduação deste estado de espírito e que com uma simples “receita de bolo” você pode acabar com ele como uma ressaca curada após uma alegre bebedeira. E tudo isso me entristece, porque tudo isso desvaloriza os verdadeiros momentos que causaram o “sofrimento”. Tudo parecia muito mais verdadeiro quando não tinha a tal “receita de bolo”. Ou ainda: nada disso é sofrimento, é tudo capricho e eu nunca sofri de verdade, por isso é tão “fácil” superar. Talvez eu não conheça o real significado desta palavra. Será?! Quem sabe?! Talvez um dia eu saberei ou não. "A poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem". (Pablo Picasso)

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