Matéria prima para escrever.

on 8 de outubro de 2013

E eu estava lá... Havia me distraído e quando percebi estava em meio a uma caverna escura, fria, com relevos rochosos pontiagudos. Não sabia da onde tinha vindo tampouco o caminho para sair dali. Tinha uma lembrança distante de um dia belo e da felicidade traduzida no canto dos passarinhos e no farfalhar das árvores. No meu âmago, sabia que sair dali seria mais fácil do que continuar explorando as trilhas estreitas que acabavam em grutas de águas cristalinas. Aos poucos a luz foi ficando escassa. Estava, enfim, sozinha, entregue ao meu próprio destino, a minha própria força, a minha própria vontade por sair dali ou a continuar a desfrutar daquela nova aventura que se apresentava. Caminhei sem destino, tomando cuidado com as rochas, tomando cuidado onde pisava, tomando cuidado para não me expor e ficar vulnerável aos animais que apareciam desavisadamente pelo caminho. Tomei todo o cuidado, precisava reservar forças, precisava conhecer os pequenos paraísos daquela caverna ao mesmo tempo em que precisava sair viva dali. Já estava cansada quando uma luz apareceu, era tão pequenina. Segui a luz, andei muito, já não tinha noção do espaço, agora, tampouco do tempo. Meus olhos, já não acostumados a claridade, doeram. Acharam estranho, quase não reconheceram o que era uma luz. Acostumaram-se aos poucos e quando perceberam, haviam se enfiado mais fundo naquela caverna e podiam admirar todo o espetáculo natural que se revelava a cada piscada. A luz iluminava todo o ambiente rochoso. Só agradecia, por não ter desistido e ter podido desfrutar daquele descanso para os olhos, daquele descanso para o meu corpo e para o meu coração, outrora tão desesperado e perdido em meio ao desconhecido. Águas azuis, águas cristalinas. Podia gritar e ouvir o eco da minha voz ao longe. E eu gritava... gritava um sentimento que não se traduz em palavras, provavelmente algo próximo a leveza da felicidade. Ouvia o barulho das águas e dos animais. Finalmente, podia me refrescar e descansar. No entanto, durou pouco. Muito pouco. O meu coração se desesperou e começou a bater aceleradamente, compassadamente, ocupava um espaço maior que o meu corpo, quando a luz, sem avisar, começou a ficar fraca. Não sabia para onde seguir, meus pés congelavam dentro das águas da caverna, uma brisa soprou forte e me fez tremer. A luz que começou como um ponto que aumentou e se fez em clareira, agora desaparecia sem dar nenhum referencial. Depois de ter visto lugares tão belos, sentido a plenitude de me desafiar e adentrar no labirinto daquela caverna, o que me proporcionou vistas e sentimentos incríveis... Após tudo isso, me sentia mais perdida e sozinha do que pela primeira vez que a luz tornou-se escassa. Estava cercada por lagoas azuis, sentia a pedra molhada sob os meus pés e estava mais fundo na caverna. Não sairia mais dali. Não tinha para quem gritar. A única resposta que obtinha era o eco da minha voz...o eco avisando que sempre estive sozinha comigo mesmo. As lágrimas e o choro secaram. O desespero ficou mudo. Não sabia para onde ir, a cada passo, me afundava nas águas. E se eu sentasse, esperasse... Esperar por o que?! Já não tinha tempo, nem espaço, nem ninguém. Eu já era uma lembrança para quem ficou fora da caverna e para os amigos dos quais me perdi no caminho. Se eu continuasse andando, morreria de cansaço, desidratada, por inanição, sofreria algum acidente em meio as rochas pontiagudas ou me afogaria. E se eu me acostumasse a viver ali dentro, no escuro, sozinha e comendo os animais que aparecessem pela frente? Bom, já era uma opção. Meus olhos já haviam se reacostumado ao escuro. Mas... e as lembranças?! Seriam meus fantasmas? Meus anjos? Seriam minha esperança de um dia, sem querer, assim como fui parar ali, conseguir encontrar uma saída? Bom, não sei. E essas escolhas caberiam somente a mim. Caberiam somente ao que restou do meu físico e do meu psicológico após essa aventura em meio a essa cadeia rochosa. Quantas não são as vezes em que me pergunto, o que poderia ter acontecido, se a curiosidade e a vontade não tivesse falado mais alto?! Se eu não tivesse me deslumbrado com a possibilidade de conhecer os fascínios das profundezas daquelas rochas?! Talvez ainda estivesse perdida, mas na beirada da gruta, provavelmente, me encontrariam, mais cedo ou mais tarde, me encontrariam. Agora que conheci tudo o que eu queria, me encontro perdida e longe da possibilidade de ser encontrada. Valeu a pena? Valerá? Talvez nem o tempo possa dizer. A história ficou, literalmente, gravada em rocha, agora era somente ela (já não eu) e as rochas.

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