Quando o seu maior pesadelo é sonhar...

on 17 de setembro de 2013

E mais uma vez permitiram com que eu sonhasse...e mais uma vez fui ludibriada. Mais do que isso me fizeram acreditar ser possível viver um sonho. Logo eu, tão calejada e já acostumada com pesadelos e noites mal dormidas. Pude por uma última vez encostar a cabeça no macio do travesseiro e deixar que Orfeu me levasse para longe, guiasse o meu subconsciente, o meu infinito particular... Um céu azul me protegia, um sol quente me fazia sorrir e flores embelezavam os dois lados da estrada de terra batida pela qual eu caminhava...Vislumbrei ao final uma luz que me chamava, uma luz que me aguardava de braços abertos... comecei a correr, corria loucamente, incansavelmente para abraça-la. Repentinamente, a estrada, sem avisar, sem placas ou indicações, se estendeu. Para minha surpresa, de modo surreal, duplicou de tamanho, triplicou e eu me tornei tão pequenina frente aquelas milhas. Pedras apareceram, ervas daninhas brotaram do chão e vivamente se agarraram aos meus pés, tentei escapar, tropecei, me machuquei e cai. A luz ficava cada vez mais distante, as flores murcharam, o tempo fechou. Esfolada, suja continuava a correr e a correr...de-sa-ten-ta-men-te. Tenta. Mente. Tenta ou Mente? E ouvi: tenta novamente! Almejando tão insandecidamente por aquela luz, não vi o buraco que se abriu a minha frente. E cai...cai...cai...e o buraco não tinha fundo, o chão não chegava. A queda foi longa, vi a minha vida passar, senti um misto de medo e paz. Sofri, mas no final toda a angústia havia se transformado em um grande alívio...alívio, pois não sonharia mais, tampouco teria pesadelos, meu fim chegara. NÃO! Ouvi: tenta novamente! Bati no chão duro e seco e o alívio foi embora. Encontrei-me em uma realidade marginal, podre, onde não havia espaço para sonhos, felicidade e para o amor. Encontrei-me em um mundo frio, cinzento, de pessoas más e calculistas. Voltei para o meu pesadelo, o local onde estou destinada a viver, ou melhor, a morrer, dia-a-dia. Ai de quem me permitir sonhar, ai de mim me permitir sonhar...o meu maior pesadelo é sonhar. O meu maior pesadelo foi encontrar em meio a esse mundo amargo e descrente uma ponta de esperança. Um pedacinho de sonho me acompanhou do paraíso para cá e agora me sinto responsável por cultivá-lo, não por mim, não pelos outros, mas porque algo tão belo não merece morrer. Antes de cair pelo buraco, uma florzinha branca se enroscou nos meus pés e sobreviveu a queda, sobreviveu a crueldade. Hoje ela é o meu maior pesadelo, pois me lembra todos os dias do quão gostoso é sonhar; hoje ela é o meu sonho, o sonho de um lugar melhor, mais bonito, mais leve, mais quente, mais doce, mais amável.

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